Do ensino presencial ao remoto
mediado por tecnologia digital: ameaça ou oportunidade?
Marisa Masumi Beppu (ORCID https://orcid.org/0000-0001-6519-6970)
(Texto preparado para apresentação no grupo Metricas.edu)
A Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) foi a primeira Instituição de Ensino Superior do país que
declarou a suspensão das suas atividades presenciais frente às ameaças severas
da Pandemia do COVID19. Em 12 de março de 2020, as aulas presenciais foram
flexivelmente substituídas por atividades de ensino remoto, mediados por
tecnologia digital. Sendo essa moléstia, uma patologia de origem viral que
afeta sobretudo o trato respiratório, o contágio se dá pela transmissão
“airborne” ou seja, via gotículas originadas na fala, na tosse e no espirro dos
interlocutores. Dessa forma, situações de sala de aula em um espaço confinado na
qual 60 a 150 alunos ali permanecem por 1 ou 2 horas a fio, seriam condições
altamente favoráveis ao contágio e disseminação da doença.
A medida, criticada no início tanto
por aqueles que achavam que a medida era exagerada, quanto pelos que achavam
que seria melhor suspender totalmente as atividades pois seria uma situação
vencida em alguns dias, ou um ou dois meses, se mostrou de fato necessária. A
severidade da pandemia e as consequências graves e, em grande parte
incontroláveis, dos sintomas dos infectados falaram por si só.
Apesar da suspensão das
atividades presenciais, a Unicamp não parou. Continuou suas iniciativas e,
talvez não seja exagero dizer que, em determinadas áreas, intensificou suas
ações, instaurando, por exemplo, por iniciativa dos próprios docentes e grupos
de pesquisa, as forças-tarefas em pesquisa (amplamente apoiadas pela
administração central da Universidade, na forma de recursos e estrutura) visando
o combate à pandemia (http://www.ftcovid19.unicamp.br/).
Também as atividades de ensino seguiram na direção da flexibilização. Tal
flexibilização foi exatamente uma medida para dar tempo aos docentes e alunos, que
gostariam de continuar as atividades de ensino, de se adequarem, se adaptarem
na condução do ensino sob essa nova forma. Também foi facultado ao docente e ao
aluno que achassem melhor cancelar o oferecimento no semestre, que o fizessem.
Importante dizer que o avanço, em
anos anteriores, da Universidade nas plataformas digitais fora imprescindível a
uma adaptação mais rápida das atividades nesse contexto: a adoção de sistemas
de assinatura digital, a migração de e-mails para sistemas únicos e
corporativos, o uso de plataformas educacionais como o Moodle® e Google
Classroom® para apoio às atividades de aula presenciais, uso de nuvens,
sistemas VPN, entre outros.
O semestre fora alongado para
permitir tal adaptação e acolher um ritmo mais lento, necessários às curvas de
aprendizagem dos envolvidos, de maneira que os prazos de integralização dos
alunos também foram alongados automaticamente em um ano a mais. Também aos que
quisessem, foi facultado que os resultados dos semestres afetados não fossem
contados em seus índices de aproveitamento, tal como no coeficiente de
rendimento (CR - uma média das notas das disciplinas ponderada pelo número de créditos).
Desde tal momento, no entanto, um
debate se estabeleceu na Universidade: havia um grupo, talvez mais crente à
época de que a situação fosse de fato passageira e mais curta, que defendiam a
parada total das aulas e de outro lado, havia outro grupo, que argumentava que
aguardar pelas condições ótimas (da situação pré-pandemia de ensino presencial)
não fosse viável num tempo tão curto. Esse tempo hoje se mostra mais longo do que
as previsões da grande maioria de pessoas quando iniciou a quarentena.
Para se tentar manter o mínimo de
referência no dia-a-dia e preservar a sanidade e condições oferecidas aos
alunos e docentes, alguma “rotina” diante do imponderável deveria ser
estabelecida, sabendo e assumindo que não teríamos as condições ótimas. No
entanto, esse seria um meio pelo qual valeria a pena agir, moldar-nos,
adaptar-nos e lutar para cumprir nossa missão na sociedade.
Havia críticas proveniente do
discurso do “nenhum aluno para trás” e a Universidade se dedicou a esse aspecto
também. Desde a época dos anos 80-90, a Unicamp sempre procurou prover
condições de inclusão para os alunos mais necessitados financeiramente. Eu
mesma, autora deste texto, fiz um relato pessoal de que, quando fui aluna de
engenharia, utilizei diversas vezes o serviço do SAE (Serviço de Apoio ao
Estudante), na qual eram emprestadas calculadoras científicas programáveis (um
luxo, à época, não acessível a todos os alunos) na mesma sistemática usada no
empréstimo de livros na biblioteca. De forma plena, a ideia sempre foi prover
ao aluno de baixa renda, as condições de acompanhamento, e jamais de frear as
atividades potenciais de aprendizagem alegando a impossibilidade de alguns. Na
mesma linha, a Unicamp manteve sua forma de trabalho na pandemia. Foram instaladas
verdadeiras redes de apoio e mutirões de coleta de equipamentos como notebooks
e tablets para doação e empréstimo aos alunos que necessitassem. Os
equipamentos doados eram recolhidos, sanitizados, recondicionados e levados até
o aluno que necessitasse (https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2020/04/06/unicamp-inicia-emprestimo-de-equipamentos-para-atividades-nao-presenciais).
Também houve parcerias da Universidade com empresas provedoras de internet e a
massiva compra de chips de dados para que a Universidade disponibilizasse
acesso a esses mesmos alunos (https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2020/04/08/alunos-conectados-comeca-entrega-de-chips-e-equipamentos-de-informatica).
De fato, “nenhum aluno para trás”... a ideia era prover condições dele(a)
acompanhar a modalidade adaptada de ensino. Na moradia estudantil da
Universidade, o acesso wifi via Eduroam fora garantido como em boa parte
do restante da Universidade (https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2020/03/25/unicamp-instala-novo-sistema-de-internet-sem-fio-wifi-na-moradia-estudantil).
Com o passar dos dias, mesmo os
mais ferrenhos críticos, mudaram seu discurso saindo do “vamos parar” para o
“vamos contribuir”. Contribuir e sermos solidários nesse momento se mostrou
crucial para podermos atravessar o momento de forma mais serena e ponderada
possível.
De fato, a fala da desigualdade
de condições foi usada politicamente como um argumento para evidenciar a
suposta perversidade da decisão de flexibilização do ensino pela Universidade.
Tal argumento centrava-se na ideia de que alguns, em casa, precisam cuidar da
família, de que há condições precárias de dedicação aos estudos e o fato que o
ensino à distância não se concentra somente em prover acesso à internet. Em que
pese o fato das frases citadas terem sua verdade, a pandemia evidenciou as
condições diferentes e perversas que já havia nas diferentes famílias
brasileiras, em nossa sociedade. Tais diferenças perversas já estavam
instaladas, mesmo antes, no ensino presencial. A suposta equidade levada ao
extremo das condições individuais de casa-em-casa é, por enquanto, para
Universidades como a Unicamp, uma utopia (a não ser nas universidades que optem
pelo quase-internato).
A sociedade passa agora por um
momento de diferentes estágios de aceitação dos efeitos dessa pandemia sobre
nosso futuro. A aceitação de que as limitações impostas por ela não cessarão de
forma tão instantânea, uma vez que os gargalos biotecnológicos não preveem uma
vacina (a única solução segura ao problema) em tempo tão curto. E a sensação de
que esse período seria uma espécie de “férias”, ou uma paralisação temporária
está cada vez mais se esvaindo conforme o passar dos dias. Hoje, esse texto é
escrito na situação em que a “quarentena” se tornou uma “noventena” e cada vez mais
próxima das centenas de dias que passaremos em condições muito diferentes daquelas
da pré-pandemia. “Segundas ondas” de infecção em outros lugares do mundo
reforçam esse senso.
Uma experiência específica sobre
a transição do ensino presencial para aquele mediado por tecnologia digital foi
a apresentada pela Faculdade de Engenharia Química- FEQ (cursos diurno e
noturno) da Unicamp. Esta unidade decidiu pela continuidade das atividades de
aula e sua coordenação ofereceu o apoio à adaptação ao novo modelo de ensino.
Obviamente, as diferenças de desenvoltura e prática com o uso de tecnologias apareceram nas diferentes gerações de docentes que a Unidade abriga, mas pode-se
dizer que mesmo o docente “menos tecnológico” demonstrou um natural desejo de
aprender e se adaptar ao novo ambiente, até mesmo pelo amor e gosto pela
docência e por reconhecer que era a única forma viável, existente no momento,
para contribuir com o ensino. A chamada avaliação de curso, que ocorre sempre
ao meio dos semestres letivos, contou com cerca de 160 pessoas, numa reunião
virtual, em plataforma digital. Um recorde comparado às reuniões de avaliação
que ocorriam de forma presencial. Tal fato reforça um primeiro sintoma natural
deste tipo de acesso, em reunião virtual, que atraiu mais pessoas à reunião.
Seja possivelmente por facilitar o acesso à entrada na sala virtual, seja por
conta do assunto da adaptação ser de extremo interesse de alunos e professores
no momento. Esses fenômenos das reuniões de avaliação de curso cheias, não foram
privilégio da engenharia química, mas relatos parecidos apareceram nas reuniões
da medicina, da química, da geociências, entre outras áreas. Um outro fato
importante a se evidenciar, é que, com exceção de um ou dois profissionais, a
maciça maioria dos docentes não tinha qualquer experiência anterior com ensino
remoto, o que tornou a trilha da adaptação realmente um fato inédito em suas
vidas. Para que este momento de adaptação fosse viável, a troca de experiência
entre os docentes e sua a conversa constante com alunos e colegas foram
essenciais.
A parceria entre os diversos entes desse processo se mostrou crucial para o sucesso da empreitada, uma vez que ninguém possuía uma fórmula correta para as aulas colocadas dessa forma. Para o feedback dos alunos, além das conversas constantes, um aspecto importante foi contar com as entidades como o centro acadêmico da FEQ, que de maneira responsável e muito presente nos assuntos da graduação, realizaram surveys e pesquisas com coletando informações e opiniões dos alunos acerca do momento. Os alunos chegaram a atribuir notas mais altas aos docentes da FEQ em sua adaptabilidade, sendo mais severos na atribuição de suas próprias notas de auto-avaliação (figura 1).
Figura 1: Avaliação dos alunos
segundo pesquisa do CAFEQ (uso das imagens autorizado pelo CAFEQ, centro
acadêmico da FEQ, presidente Enzo A. C. Claro, 2020)
Alguns sintomas desse novo modelo
de ensino puderam ser notados:
O primeiro deles, é que todas as
atividades realizadas por via digital, à distância, foram classificadas como
mais extenuantes aos participantes. Há várias razões discutidas sobre as
potenciais razões desse efeito. A mais aceita é a de que somos seres holísticos
que coletamos as mensagens de várias vias diferentes. O fato de não mais
contarmos com as linguagens corporais presenciais, fariam com que devamos redobrar
a nossa atenção a cada atividade remota, o que nos deixariam mais cansados quando
comparamos com o equivalente da atividade presencial num mesmo tempo. Afinal,
foram milhões de anos de evolução como ser social e, interagir agora através da
tela não nos remete aos mesmo efeitos e condições das atividades presenciais.
O segundo aspecto é que, na
situação atual, os alunos acabam tendo que tomar responsabilidade de boa parte
da auto-organização, da liderança de sua própria agenda e das iniciativas
pessoais para que a aprendizagem ocorra. Mesmo não sendo uma total
sala-de-aula-invertida, se transfere boa parte da iniciativa da aprendizagem ao
protagonismo do aluno. Esta também se torna, a depender dos seus níveis de
maturidade, uma situação que drena mais tempo e exige um rápido amadurecimento
nas formas do aluno gerenciar seu próprio tempo, ritmo, lazer e afazeres concorrentes,
podendo também se tornar uma tarefa extenuante. Sob esse aspecto é que muitos
alunos possivelmente auto-atribuíram notas baixas de dedicação. Como solução
auxiliadora, mencionaram que o contato rotineiro com o professor, com atribuição
de pequenas tarefas e exercícios ajudam a manter o ritmo de estudo. Um aspecto
curioso é que muitos alunos relatam que uma mesma tarefa, resolvida em 2 h em
sala de aula acabam por tomar entre 50% a 100% a mais do tempo, quando feitos
em casa. Talvez pelo fato de haver muitos outros assuntos que concorram com sua
atenção, não propiciando um momento de imersão total em aula como supostamente
ocorria em sala de aula presencial.
O terceiro aspecto é que não há
uma fórmula mágica, assim como nunca houve para o ensino presencial, para o
ensino remoto. As formas são múltiplas, assim como o ferramental, e devem se
adaptar como um toolbox (caixa de ferramentas) disponível ao professor
que deve então adequar seu uso de modo a maximizar a aprendizagem. Há
disciplinas mais informativas, que se adaptam com uma ou outra ferramenta, há
disciplinas mais carregadas no aspecto dedutivo matemático que exigem aulas
focadas no estilo “draw my life” de vídeos e outras, de debate em grupos que
exigem ações totalmente síncronas. Particularmente, no caso da disciplina que
eu ministro, os alunos manifestaram sua preferência pelas as aulas ao vivo,
síncronas, realizadas no horário das aulas, que são também gravadas e
disponibilizadas, para que os alunos que não puderam estar presentes naquele
momento na aula virtual possam acessar o conteúdo em outro momento. A presença
de horários de atendimento a dúvidas também ajudam todo o contingente de alunos
no acompanhamento das aulas. De certa forma, os alunos relatam a aversão a
alguns vídeos gravados no estilo “you-tuber”, muito produzidos e certinhos,
exatamente por perderem a espontaneidade e a customização para o público
específico daquele alunado. A personificação e a interação aluno-professor
tornam a nova forma de atuação via aulas remotas mais humana e acolhedora.
Obviamente, a preparação dos
docentes poderia passar pela necessidade de treinamento na tecnicidade das
ferramentas de gravação, de salas de aula e mesmo de softwares, mas a boa
vontade e interação com o alunado continuam sendo elementos fundamentais na boa
parceria de aprendizagem. Tanto que a validação desta ou outra técnica de
ensino só servem como modelos se tiverem sua efetividade endossada pelo próprio
alunado. Vale a pena ser repetitivo nesse aspecto: a parceria professor-aluno é
fundamental nessa adaptação e construção visando maior aprendizagem.
De fato, boa parte dos alunos
mais conscientes se mostram mais abertos à mudança, pois notaram que a
sociedade também já mudou. A sociedade que vai recebê-los após a graduação será
diferente: as empresas, as indústrias, os órgãos governamentais mudaram seus
“locais” de trabalho para o ambiente virtual. O teletrabalho (home-office)
está presente de forma indelével nesses lugares a ponto de ser quase consenso
que quem não estiver adaptado às novas formas de atuação, mesmo na situação
pós-pandemia covid19, não terá sua empregabilidade garantida. A forma do
trabalho também teve seus paradigmas colocados à prova: o senso de limitação
geográfica para a empregabilidade está mudando drasticamente. No campo das
engenharias, essa já era uma forma muito profetizada com o advento da indústria
4.0, mas nas áreas mais sociais e biológicas, a pandemia se tornou um
catalisador dos novos conceitos mediados pela digitalização, acompanhando o
impulsionamento de atividades como a telemedicina e as reuniões deliberativas on-line.
O senso de que algumas mudanças serão
irreversíveis centram-se no fato de que alguns colegas epidemiologistas e
virologistas nos assustam com seus prognósticos de que o covid19 seria uma
pandemia moderada. Não seria então exagero imaginar que viveremos num mundo,
daqui pra frente, mais suscetível às novas pandemias, também possivelmente mais
frequentes. Tal situação seria conferida pela urbanização em todo o planeta,
adensamentos populacionais e trânsito frequente com a interligação física entre
populações. Assim, certas práticas, seja de uso de EPIs (máscaras) assim como
de etiqueta de afastamento social (já usadas em algumas sociedades, como a
japonesa) devem estar mais presentes no nosso meio, mesmo em meio a culturas
muito distintas como a latino-americana. A própria estrutura de organização
fabril do mundo está sob revisão, uma vez que a atual pandemia mostrou as
desvantagens da excessiva globalização das operações, de maneira que se tornou
estratégico que certas marcas mundiais rebalanceiem suas manufaturas locais,
visto que a cadeia de suprimentos global se mostrou ameaçada em crises
sanitárias como esta.
Assim, todos fomos colocados para
fora de nossa zona de conforto e testemunhamos uma nova forma de sociedade se
descortinar por uma situação que não escolhemos, não elegemos, mas que se
desenhou por necessidade de preservação de vidas. Situação que nos exige adaptabilidade,
solidariedade e senso de manutenção responsável do trabalho e do estudo.
Um ponto que aqui se projeta,
ainda sobre a questão das desigualdades em nosso país, apareceu em minha
experiência pessoal, através de um relato que nos desperta e convida a reavaliar
nossos paradigmas sobre o ensino remoto. O relato era de um estudante de nosso
curso noturno, que trabalha durante o dia e que confessou que a nova forma de
ensino adaptado, estava sendo, com todas as limitações humanas de necessidade
de contato que temos, melhor para ele. Uma vez que antes, no ensino presencial,
ele precisava trasladar durante horas para o local de aula, tornando-se uma
rotina mais cansativa. Na nova forma, segundo o relato, as aulas estavam
disponíveis para que ele acessasse no retorno do trabalho, e lhe propiciava
melhor aproveitamento do tempo e acesso maior ao conteúdo. O relato franco nos traz
à reflexão de que, vencidas as barreiras técnicas de acesso, o novo ensino,
adaptado num híbrido entre presencial e remoto, pode ser um instrumento
importante para aumentar a inclusão.
Negar este potencial é negar a
evolução do mundo. Por que não imaginamos, dessa forma, a inclusão digital como
possível Estratégia de Estado para garantir acesso a informações, serviços e
educação? Não seria possível firmar parcerias nessa direção? Um pacote digital
não seria tão importante quanto o provimento de insumos de educação e material
escolar?
O potencial de capilarização dos
cursos e da educação podem trazer impactos muito positivos e um olhar mais
solidário aos estudantes de regiões remotas, com dificuldades de deslocamento e
de arcar com custos de mudanças de moradia e cidade.
As atuais experiências colocam à prova os limites paradigmáticos nas quais vivíamos em termos de educação pré-pandemia. Por que nossa estrutura é semestral? Por que a exigência de presença? Por que o vestibular está limitado a certo número de vagas?
Em que pesem as preocupações sobre o sucateamento e precarização potencial do ensino na adoção de ensino remoto, talvez a experiência esteja mostrando que nem tanto um “oito” nem tanto um “oitenta”: o ensino otimizado em algum local no intermediário dessa escala contínua poderia ser implementado, com melhoria de seus efeitos. Os mesmos preconceitos estão sendo questionados pelas mais prestigiosas instituições de ensino do mundo. Tais instituições estão tendo que enfrentar e reavaliar seus paradigmas. Mundialmente, vemos a preocupação europeia com os estudantes da comunidade internacional. Vimos também instituições renomadas quanto Harvard, MIT e Universidade de Cambridge (Reino Unido) (https://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2020/05/epoca-negocios-universidade-de-cambridge-realizara-todas-as-aulas-online-em-2021.html) anunciarem seus novos terms em 2020 e 2021, sendo realizados potencialmente à distância. Há um claro prenúncio de que as instituições que mais rapidamente se adaptarem e liderarem este processo estarão melhor preparadas a cumprir seu papel na sociedade.
De fato, a falta de ação, a
estagnação e a passividade na espera de que tudo uma hora volte magicamente ao
que éramos como sociedade pré-pandêmica não é solução. Se há algum aspecto
positivo oriundo desta pandemia, é o consenso de que a ciência se mostrou
essencial à sociedade, assim como o conhecimento. Se acreditamos que a educação
é de fato uma forma de prover qualidade de vida à população, cabe a nós, nas
universidades, assumirmos o protagonismo em ajudar a sociedade a ultrapassar as
dificuldades atuais (sem aguardarmos de forma “sebastianista” nossos políticos).
As contribuições que temos para dar e influenciar sobre as novas formas de
organização, novas vias de trabalho e ensino nos novos cenários serão
essenciais. A exploração por parte de setores sindicais e/ou partidários, dos
aspectos deletérios dessa pandemia, por mais que representem setores da
sociedade, deve resistir a cair num discurso vitimista ou oportunista, pois apequena
o real papel da Universidade. As universidades são instituições cuja provisão
de conceitos e ações solidários e vanguardistas são missão muito maior na
sociedade em transformação.
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