A inútil taxonomia política
Sempre penso que menosprezamos aquilo que não conhecemos. De
certa forma, isso acontece no estranhamento entre as áreas humanas vs exatas, entre
as áreas mais básicas vs técnicas, entre universidade vs indústria, etc.
No livro de Steven Pinker, Como a Mente Funciona, há um
capítulo em que o autor diz que é um pressuposto inútil achar que precisamos
procurar vida inteligente em outros planetas, achando que a inteligência seria
o último nível claro de evolução e sobrevivência. Numa equiparação daquilo que
nos deu vantagem evolutiva, seria o mesmo que se os elefantes fizessem o
pressuposto de que os seres mais evoluídos um dia também apresentariam trombas.
Ok, a analogia não é 100% boa, mas serve para mostrar que tentamos projetar no
outro, a nossa particular lógica e o erro está exatamente nisto.
Dentro da Universidade, onde os conhecimentos e as
possibilidades deveriam estar os mais abertos possíveis para o livre debate de
ideias, a pré-classificação frente aos nossos requisitos pessoais de o que
seria o último estágio de evolução social, nos leva a uma intoxicante cortina
de fumaça.
O fato é que essa classificação sempre nos leva a uma taxonomia
limitada, que nos cega, limitando a assimilação dos fatos e a elaboração das melhores
ideias.
Desde que comecei a dizer o que penso no ambiente universitário, as pessoas
não se cansam de tentar me classificar (ok, ok... o reconhecimento de padrões é
uma habilidade evolutiva da espécie humana e a ajudou muitas vezes a discernir
o perigo e a viabilizar sua sobrevivência). Mas esta classificação aparentemente
inofensiva torna-se nociva, quando ela serve para diminuir o processo e o resultado.
“Não vou ler aquele post ou opinião pois ela é direita radical”. “por que ela é
candidata”, “por que ela é fascista”, “por que ela é carioca”, “por que ela
gosta de pudim”... enfim, no meio da brincadeira, nos esquecemos que somos
seres multidimensionais e que não se classificam ideias devido a uma
paternidade ou maternidade pré-rotulada. A isso se dá o nome de preconceito. Desde
que comecei a colocar meus posts no blog, vi, ouvi e encaro, até de forma
divertida, as pessoas tentando me categorizar. O que é este bicho estranho que se
intitula independente de chapas e se coloca para que eu tenha que ler as
informações ali colocadas?
Foi ou não “ungida” pelo grupo A ou grupo B?
O fato é que, para algumas áreas, é mesmo mais fácil tratar
de alguns assuntos com a redução e minimização do viés político. Mas alguém
aqui discorda que o Cálculo diferencial de Newton, continuará sendo o mesmo
independente se num governo de esquerda ou de direita? Ou que a lei da
gravitação universal continue exatamente a mesma após votarmos em uma legenda
ou em outra? Ou que um elétron continuará negativo mesmo que o governo seja intervencionista
ou liberal? Já uma aula sobre história política será muito diferente dependendo
de todas as condições que citei acima.
Então, pasmem, as áreas têm que ser tratadas diferentemente.
Não há dúvidas disso.
Porém, há dados que continuarão sendo dados, independente de
eu ser verde, vermelha, azul, amarela, arco-íris, branca ou preta. Tanto quanto
possível, é esta a intenção de informar a partir deste blog. Podemos ser
recriminados e julgados por não concordarmos com o antídoto ou o tratamento,
mas não vamos negligenciar a moléstia.
Também sou uma otimista. A Universidade não será igual ao
que foi há vinte anos atrás. Temos todas as condições de sermos líderes, protagonistas
e vanguardistas no mundo acadêmico e social, mas não seremos iguais ao que
fomos há anos. Seremos diferentes. E se eu não acreditasse que podemos ser
inteligentes e hábeis o suficiente para planejar e reagirmos, eu jamais estaria
escrevendo neste blog. Nos próximos posts, vou tratar de um assunto polêmico e
duro, mas necessário: a nossa demografia. A esse assunto se atrelam vários
outros, inclusive a previdência.
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